Saiba qual a necessidade de aplicar fertilizantes dependendo do que vem antes do cultivo principal

Marina Salles

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Foto:Embrapa Ampliar foto Fixação de nitrogênio em lavouras de milho Cultivo de milho em plantio direto
Além das vantagens como quebra do ciclo de pragas e doenças, melhoria das condições do solo e da atividade de microrganismos, as plantas de cobertura cumprem papel importante no aumento da disponibilidade de nutrientes para as culturas que vêm na sequência delas. E um dos mais importantes é o nitrogênio.

No entanto, segundo a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Arminda Moreira de Carvalho, dependendo da espécie escolhida para anteceder o milho – que é objeto de seus estudos – recorrer a fertilizantes nitrogenados pode ser muito ou pouco necessário. “Estamos falando tanto de casos em que a planta de cobertura supre a necessidade do milho, quase não havendo perda de produtividade, até aqueles em que o rendimento cai pela metade”, diz.

Relação C/N – Conforme explica a pesquisadora, grande parte dessa flutuação se deve aos níveis de carbono e nitrogênio no solo. “Se você tem uma razão muita alta, muito carbono e pouco nitrogênio, os microrganismos imobilizam esse nutriente para sua própria sobrevivência”, afirma. Se há um volume maior, acabam disponibilizando nitrogênio em condições que, naturalmente, são assimiláveis pela planta.

Pesquisas – Na Embrapa Cerrados, a eficiência da fixação de nitrogênio no solo na presença de plantas de cobertura é medida em experimentos de longa duração. Alguns, segundo Arminda, com mais de 20 anos.

“Estudamos não só leguminosas em sucessão com o milho, mas culturas como trigo, milheto, sorgo e braquiária”. Além dessas, entram na lista a mucuna, guandu, crotalária, nabo forrageiro, feijão bravo do ceará e outras de ocorrência natural no Cerrado.

Para efeito de comparação, são cultivados talhões com e sem plantas de cobertura em sucessão e que recebem ou não adubação. Arminda reforça que os híbridos de milho usados são exigentes e que, em geral, se faz aplicação de 20 kg/ha de fertilizantes nitrogenados no plantio, além de duas aplicações de cobertura extras, de 65 kg/ha cada.

Os resultados chamam a atenção. “No caso da braquiária, por exemplo, não tem como dispensar a aplicação de nitrogênio por fertilizantes”, afirma a pesquisadora. Com o manejo adequado, o milho produz 14 ton/ha. Sem o fertilizante, a produtividade cai pela metade, para 7 ton/ ha.

Escolher a combinação inadequada, em termos da relação C/N, é outro problema. Segundo Arminda, a sucessão de milho e sorgo é um desses casos. “Com as aplicações de nitrogênio, a produtividade não passa de 8 ton/ha. Sem elas, cai para 5 ton/ha”, afirma.

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Até agora, o experimento de maior sucesso foi com o feijão-bravo-do-ceará. “Sem nitrogênio, o milho em sucessão chega a produzir 12,5 ton/ha. Com nitrogênio quase não tem diferença, indo a 13 ton/ha”, diz Arminda. Ela lembra ainda que a espécie é muito eficiente na fixação de nitrogênio do ar atmosférico e também na associação com micorriza, aumentando a absorção de fósforo, zinco e outros nutrientes pela planta.
Por não ser uma variedade comercial, as sementes do feijão-bravo-do-ceará são difíceis de serem encontradas e a irregularidade delas também cria um problema de implantação. “No futuro, o melhoramento genético pode gerar condições de fazer uso da planta pelo menos em pequenas propriedades”, conclui a pesquisadora.

Sem falar na ciclagem de nutrientes, a opção por plantas de cobertura que fixam nitrogênio no solo reduz gastos com insumos nitrogenados e promove uma produção mais sustentável.

Fonte: Portal DBO